sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Deus revela-Se (I)


    Ao tratar da Revelação, o Catecismo da Igreja cita a Constituição Dogmática Dei Verbum: "Aprouve a Deus, em Sua bondade e Sabedoria, revelar-Se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da Sua vontade..." CIC § 51
    É o que conta a História da Humanidade, desde seu reinício: "O Senhor viu que a maldade dos homens era grande na terra, e que todos pensamentos de seu coração estavam continuamente voltados para o mal. Noé, entretanto, encontrou Graça aos olhos do Senhor. Esta é a história de Noé. Noé era um justo e perfeito homem em meio aos homens de sua geração. Ele andava com Deus." Gn 6,5.8-9
    Bem como a História de Israel, desde o início da formação de seu povo: "O Senhor apareceu a Abrão e disse-lhe: 'Darei esta terra à tua posteridade.' Abrão edificou um altar ao Senhor, que lhe tinha aparecido." Gn 12,7
    O salmista atesta estes frequentes contatos com os patriarcas, pois a Revelação implica Salvação: "Ele revelou Sua Palavra a Jacó, e aí ela corre velozmente." Sl 147,4
    Aponta para a Lei, em específico, e ressalta o povo inicialmente escolhido: "Ele revelou Sua Palavra a Jacó, Sua Lei e Seus preceitos a Israel. Com nenhum outro povo agiu assim, a nenhum deles manifestou Seus Mandamentos." Sl 147,8-9
    E pelas Escrituras a Revelação foi divulgada: "Ele promulgou uma Lei para Jacó, instituiu a legislação de Israel para que, aquilo que confiara a nossos pais, eles o transmitissem a seus filhos, a fim de que a nova geração O conhecesse, e os filhos que lhes nascessem também pudessem contar aos seus." Sl 77,5-6
    Isso inclui Suas poderosas intervenções, e a convocação dos Profetas: "Revelou Seus Caminhos a Moisés, e Suas obras aos filhos de Israel." Sl 102,7
    O próprio Profeta Amós confirma: "Porque o Senhor Javé nada faz sem revelar Seu segredo aos Profetas, Seus servos." Am 3,7
    E afirma Seu poder e Seus projetos: "Porque Aquele que formou os montes e criou o vento, Aquele que revela ao homem Seus próprios pensamentos, e que muda as trevas em aurora e que anda por cima das alturas da terra, Seu Nome é o Senhor, o Deus dos Exércitos!" Am 4,13
    O sagrado autor dos Salmos vai além, e fala de sinais a todas nações: "O Senhor fez conhecer Sua Salvação, aos olhos dos povos revelou Sua justiça. Os confins da terra puderam ver a Salvação de Nosso Deus." Sl 97,2.3b
    Deus mesmo falava de Sua manifestações, explicitando autonomia em Seus desígnios: "Dou Minha Graça a quem quero, e uso de Misericórdia com quem Me apraz." Ex 33,19b
    Ao Profeta Ezequiel, por exemplo, Ele vai dar esta explicação para os portentosos milagres que possibilitaram o Êxodo: "Se Eu os tirei do Egito, foi somente em consideração ao Meu Nome, a fim de que não fosse odiado aos olhos das nações entre as quais eles viviam, e onde Eu Me tinha dado a conhecer a eles." Ez 20,9
    Moisés, portanto, não deixava cair em esquecimento a Aliança com Israel: "Ele deu-vos a conhecer Sua Aliança, e ordenou-vos que a observásseis: as Dez Palavras que escreveu nas duas tábuas de pedra." Dt 4,13
    Como expressiva parte da Revelação, o salmista exalta Seu poder: "Em presença de seus pais, ainda em terras do Egito, Ele fez grandes prodígios nas planícies de Tanis. O mar foi dividido para dar-lhes passagem, represando as águas, verticais como um dique. De dia, Ele conduziu-os por trás de uma nuvem, e à noite ao clarão de uma flama. Rochedos foram fendidos por Ele no deserto, com torrentes de água dessedentara-os. Da pedra fizera jorrar regatos, e manar água como rios." Sl 77,12-16
    É um modo de demonstrar Sua fidelidade para conquistar o amor de Seu povo: "Mostrou a Seu povo o poder de Suas obras, dando-lhe a herança das pagãs nações. As obras de Suas mãos são Verdade e justiça, imutáveis são Seus preceitos, irrevogáveis pelos eternos séculos, instituídos com justiça e equidade." Sl 110,6-8
    Até mesmo a espiritualidade pagã, como acima disse o salmista e em Icônio pregou São Paulo, obteve sinais em Suas benesses: "Em passados tempos, Ele permitiu que todas nações seguissem seus próprios caminhos. Contudo, nunca deixou de dar testemunho de Si mesmo, por Seus benefícios: dando-vos do céu as chuvas e os férteis tempos, concedendo abundante alimento e enchendo vossos corações de alegria." At 14,16-17
    E tanto quanto os judeus, eles têm na Criação uma prova de Sua presença, conforme o Último Apóstolo diz aos romanos: "Porquanto o que se pode conhecer de Deus, eles leem-no em si mesmos, pois com evidência Deus lhes revelou. Desde a Criação do mundo, as invisíveis perfeições de Deus, Seu sempiterno poder e divindade tornam-se visíveis à inteligência por Suas obras, de modo que não podem escusar-se." Rm 1,19-20
    Pois Suas obras são um incontestável clamor, segundo a Sabedoria: "São insensatos por natureza todos que desconheceram a Deus, e, através dos visíveis bens, não souberam conhecer Aquele que é, nem reconhecer o Artista, considerando Suas obras. Tomaram o fogo, ou o vento, ou o agitável ar, ou a estrelada estrela, ou a impetuosa água, ou os astros dos céus por deuses, regentes do mundo. Se tomaram essas coisas por deuses, encantados pela sua beleza, então sabiam que Seu Senhor prevalece sobre elas, porque é o Criador da beleza que fez estas coisas. Se o que os impressionou é sua força e seu poder, que eles compreendam, por meio delas, que Seu Criador é mais forte, pois é a partir da grandeza e da beleza das criaturas que, por analogia, se conhece Seu Autor." Sb 13,1-5
    O eclesiástico vai no mesmo sentido: "Que podemos nós fazer para glorificá-Lo? Pois o Todo-poderoso está acima de todas Suas obras. O Senhor é terrível e soberanamente grande. Seu poder é maravilhoso. Glorificai o Senhor quanto puderdes, que Ele sempre ficará acima, porque é admirável Sua grandeza. Bendizei o Senhor, exaltai-O com todas vossas forças, pois Ele está acima de todo louvor. Enaltecendo-O, reuni todas vossas forças. Não desanimeis. Jamais chegareis ao fim. Quem poderá contar o que d'Ele viu? Quem é capaz de louvá-Lo como Ele é desde os primórdios? Muitos segredos são maiores que tudo isso. Só vemos um pequeno número de Suas obras." Eclo 43,30-36
    Também fala da inspiração que Ele mesmo dá ao ser humano: "Pôs Seu olhar em seus corações para mostrar-lhes a majestade de Suas obras, a fim de que celebrassem a santidade de Seu Nome, e O glorificassem por Suas maravilhas, apregoando a magnificência de Suas obras. Deu-lhes, além disso, a instrução, deu-lhes a posse da Lei da Vida. Com eles concluiu um eterno pacto, e revelou-lhes a justiça de Seus preceitos. Com os próprios olhos viram as maravilhas de Sua Glória, seus ouvidos ouviram a majestade de Sua voz: 'Guardai-vos', disse-lhes Ele, 'de toda iniquidade.' A cada um impôs deveres para com o próximo." Eclo 17,7-12
    Mas já havia feito uma ressalva: "Muitos são altaneiros e ilustres, mas é aos humildes que Ele revela Seus mistérios." Eclo 3,20b
    Sem dúvida, essa inspiração era a própria comunicação com os Profetas, como Deus diz a Jeremias: "... invoca-Me e respondê-te-ei, revelando-te grandes e misteriosas coisas que ignoras." Jr 33,3
    O Profeta Baruc mostra-se agradecido e exorta: "Ditosos somos nós, Israel, porque a nós foi revelado o que agrada a Deus!" Br 4,4
    Por isso, Moisés fazia questão de afirmar o objetivo da Revelação: "O que está oculto pertence ao Senhor, Nosso Deus. O que foi revelado é para nós e para nossos filhos, para sempre, a fim de que ponhamos em prática todas palavras desta Lei." Dt 29,29
    São Pedro, noutra fase da Revelação e referindo-se a Jesus, via-se suficientemente esclarecido: "O divino poder deu-nos tudo que contribui para a Vida e a piedade, fazendo-nos conhecer Aquele que nos chamou por Sua Glória e Sua Virtude." 2 Pd 1,3
    São Paulo, de fato, diz do Evangelho: "... a revelação do Mistério, em segredo guardado durante séculos, mas agora manifestado por ordem do Eterno Deus e, por meio das proféticas Escrituras, dado a conhecer a todas nações, a fim de levá-las à obediência da fé..." Rm 16,25b-26
    E eis porque o Eclesiástico recomenda humildade: "Não procures o que é demais elevado para ti, não procures descobrir o que está acima de ti, mas sempre pensa no que Deus te ordenou. Não tenhas a curiosidade de conhecer um número por demais elevado de Suas obras, pois não é preciso que com teus olhos vejas Seus segredos. Acautela-te de uma exagerada busca de inúteis coisas, e de uma excessiva curiosidade nas numerosas obras de Deus, pois a ti foram reveladas muitas coisas, que ultrapassam o alcance do espírito humano." Eclo 3,22-25
    Quanto aos povos que não conhecem propriamente a Deus, o Profeta Isaías previu nestes termos, por exemplo, a conversão do Egito. Ou seja, sempre como auto-revelação: "O Senhor dar-Se-á a conhecer ao Egito, os egípcios conhecerão o Senhor naquele tempo, e oferecê-Lhe-ão sacrifícios e oblações. Farão votos ao Senhor e cumpri-los-ão." Is 19,21
    Bem como prevê horrendos castigos aos povos que invadiam Israel, como Ele falou através de Ezequiel: "'Chamarei contra Gog toda espécie de terríveis flagelos', Oráculo do Senhor Javé. 'Cada qual voltará contra seu companheiro a espada. Farei sua condenação com a mortífera peste, farei chover sobre ele, suas tropas e as hordas que o acompanham um aguaceiro, saraiva, fogo e enxofre. É assim que manifestarei Minha Glória e Minha Santidade, revelando-Me aos olhos de inúmeras nações, a fim de que saibam que Eu sou o Senhor.'" Ez 38,21-23


'NÃO TENTARÁS O SENHOR TEU DEUS'

    Não se pode tentar a Deus, pois, d'Ele exigindo uma prova. A Sabedoria recomenda aos líderes das nações: "Amai a justiça, vós que governais a terra, tende para com o Senhor perfeitos sentimentos e procurai-O na simplicidade do coração, porque Ele é encontrado pelos que não O tentam, e revela-Se aos que não Lhe recusam sua confiança. Com efeito, os tortuosos pensamentos afastam de Deus, e Seu poder, posto à prova, triunfa dos insensatos." Sb 1,1-3
    No deserto, Jesus foi tentado por Satanás, e mostrou como reagir: "O Demônio transportou-O à Cidade Santa, colocou-O no mais alto lugar do Templo e disse-Lhe: 'Se és Filho de Deus, lança-Te abaixo, pois está escrito: A Seus anjos deu Ele ordens a teu respeito; protegê-te-ão com as mãos, com cuidado, para não machucares teu pé em pedra alguma (Sl 90,11s).' Disse-lhe Jesus: 'Também está escrito: Não tentarás o Senhor Teu Deus (Dt 6,16).'" Mt 4,5-7
    A viúva Judite, com efeito, havia ensinado aos anciãos de Betúlia: "Quem sois vós para provocar o Senhor? Não é esse o meio de atrair Sua Misericórdia, antes o de excitar Sua cólera e acender Seu furor. Vós impusestes ao Senhor um prazo para exercer Sua Misericórdia, e fixaste-Lhe um dia ao vosso arbítrio!" Jt 8,11-13
    E mesmo tendo Moisés intercedido pelos israelitas, que por insensatez reclamavam da vida no deserto, Deus jurou que os revoltosos não passariam o rio Jordão: "Mas pela Minha Vida e pela Minha Glória, que enche toda terra, nenhum dos homens que viram Minha Glória e os prodígios que fiz no Egito e no deserto, que Me provocaram já dez vezes e não Me ouviram, verá a terra que prometi com juramento a seus pais. Nenhum daqueles que Me desprezaram vê-la-á." Nm 14,21-23
    Esse episódio serviria de exemplo pelos séculos, como uma advertência do Senhor. Canta o salmista: "Não vos torneis endurecidos como em Meribá, como no dia de Massá no deserto, onde vossos pais Me provocaram e tentaram-Me apesar de terem visto Minhas obras. Durante quarenta anos desgostou-Me aquela geração, e Eu disse: 'É um povo de desviado coração, que não conhece Meus desígnios.' Por isso, jurei em Minha cólera: 'Não hão de entrar no lugar de Meu repouso.'" Sl 94,8-11
     No entanto, ele também registrou Sua paciência: "Mas suas palavras enganavam, e mentiam-Lhe com sua língua. Seus corações não falavam com franqueza, não eram fiéis à Sua Aliança. Mas Ele, por compaixão, perdoava-lhes a falta e não os exterminava. Muitas vezes reteve Sua cólera, não Se entregando a todo Seu furor. Sabendo que eles eram simples carne, um só sopro, que passa sem voltar. Quantas vezes no deserto provocaram-nO, e na solidão afligiram-nO! E recomeçaram a tentar a Deus, a exasperar o Santo de Israel." Sl 77,36-41
    São Paulo lembrou um destes acontecimentos, e diz aos coríntios: "Nem tentemos o Senhor, como alguns deles O tentaram, e pereceram mordidos pelas serpentes." 1 Cor 10,9
    O Profeta Malaquias também aponta a paciência de Deus, e acusa aqueles que se iludem com o mal, que parece prevalecer: "Dissestes: 'É trabalho perdido servir a Deus. Que ganhamos com a obediência às Suas ordens e com as procissões de luto diante do Senhor dos Exércitos? Agora temos por ditosos os arrogantes, e prosperam os que cometem a iniquidade. Ousam até tentar a Deus, e escapam ao castigo.'" Ml 3,14-15


A REVELAÇÃO DO CRISTO

     Ignorando detalhes da Cristologia, os samaritanos, assim como os judeus, viam na Vinda do Messias o fim dos tempos: "Respondeu a mulher: 'Sei que deve vir o Messias (que se chama Cristo). Quando vier, Ele far-nos-á conhecer todas coisas.'" Jo 4,25
    Mas a completa Revelação, segundo São Paulo, só se dará no Último Dia: "As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará. Nossa ciência é parcial, nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Hoje vemos como por um espelho, confusamente, mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte, mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido." 1 Cor 13,8b-10.12
    Ele falou sobre ela aos romanos: "Mas por tua obstinação e impenitente coração, vais acumulando ira contra ti, para o Dia da cólera e da Revelação do justo Juízo de Deus, que retribuirá a cada um segundo suas obras..." Rm 2,5-6
    O próprio Cristo não Se revela indiscriminadamente, como Ele mesmo afirmou: "Ninguém pode vir a Mim se o Pai, que Me enviou, não o atrair." Jo 6,44a
    São Paulo, já afeito ao conceito da Santíssima Trindade, oportunamente fala da ação do Espírito de Deus: "... ninguém pode dizer: 'Jesus é o Senhor', senão sob a ação do Espírito Santo." 1 Cor 12,3
    São João Batista dizia que só por Jesus se atesta a veracidade de Deus: "Aquele que vem da terra é terreno e fala de coisas terrenas, mas Aquele que vem do Céu é superior a todos. Aquele que recebe Seu testemunho confirma que Deus é verdadeiro." Jo 3,31b.33
    São João Evangelista pregou que a verdadeira figura do Pai só por Jesus foi revelada: "Ninguém jamais viu Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi Quem O revelou." Jo 1,18
    Sem dúvida, Jesus dizia de Sua Pessoa e da do Pai: "Ninguém conhece Quem é o Filho senão o Pai, nem Quem é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho quiser revelá-Lo." Lc 10,22b
    Realmente falava de um Mistério, como o fez perante os próprios religiosos judeus: "Não conheceis nem a Mim nem a Meu Pai. Se Me conhecêsseis, certamente também conheceríeis a Meu Pai." Jo 8,19b
    E confirmou a 'seletividade' do Pai: "Naquele mesma hora, Jesus exultou de alegria no Espírito Santo e disse: 'Pai, Senhor do Céu e da terra, Eu dou-Te graças porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes e revelaste-as aos pequeninos. Sim, Pai, bendigo-Te porque assim foi de Teu agrado.'" Lc 10,21
    Sem dúvida, a própria profissão de de São Pedro, que apontou Jesus como o Cristo, foi uma revelação do Pai: "Jesus então lhe disse: 'Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas Meu Pai que está nos Céus.'" Mt 16,17
    E Jesus fazia o mesmo com os Apóstolos, enquanto deixava apenas reflexões para os que não Lhe abriam o coração: "Quando se acharam a sós, os que O cercavam e os Doze indagaram d'Ele o sentido da parábola. Ele disse-lhes: 'A vós é revelado o Mistério do Reino de Deus, mas, aos que são de fora, tudo se lhes propõe em parábolas.'" Mc 4,10-11
    Mesmo quando Se transfigurou, Ele escolheu apenas três Apóstolos para que o testemunhassem, e estes só puderam divulgar tal fato após Sua Ressurreição: "Seis dias depois, Jesus tomou Consigo a Pedro, Tiago e João, e conduziu-os a sós a um alto monte. E transfigurou-Se diante deles. Suas vestes tornaram-se resplandecentes, e de uma brancura tal que nenhum lavadeiro sobre a terra pode fazê-las assim tão brancas. Apareceram-lhes Elias e Moisés, e falavam com Jesus. Ao descerem do monte, proibiu-lhes Jesus que contassem a quem quer que fosse o que tinham visto, até que o Filho do Homem houvesse ressurgido dos mortos." Mc 9,2-4.9
    Ao Pai, pois, Ele vai rezar especificamente pela Igreja: "Manifestei Teu Nome aos homens que do mundo Me deste. Eram Teus e deste-Mos e guardaram Tua Palavra. Por eles é que Eu rogo. Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que Me deste, porque são Teus." Jo 17,6.9
    E que só à Igreja Ele enviaria o Espírito Santo, que era mais uma grande revelação: "Se Me amais, guardareis Meus Mandamentos. E Eu rogarei ao Pai, e Ele dá-vos-á outro Paráclito, para que convosco fique eternamente. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem o conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,15-17
    Também disse que só Se manifestaria aos que procuram e observam Sua Palavra: "'Aquele que tem e guarda Meus Mandamentos, esse é que Me ama. E aquele que Me ama será amado por Meu Pai, e Eu amá-lo-ei e manifestá-Me-ei a ele.' Pergunta-Lhe Judas, não o Iscariotes: 'Senhor, por que razão hás de manifestar-Te a nós e não ao mundo?' Respondeu-lhe Jesus: 'Se alguém Me ama, guardará Minha Palavra e Meu Pai amá-lo-á. E Nós a ele viremos e nele faremos Nossa morada.'" Jo 14,21-23
    E disse que nem Ele mesmo arremataria a Revelação: "Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas agora não podeis suportá-las. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensiná-vos-á toda a Verdade, porque não falará por Si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciá-vos-á as coisas que virão. Ele glorificá-Me-á, porque receberá do que é Meu, e anunciá-vos-á." Jo 16,12-14
    A missão do Paráclito, de fato, é de absoluta importância para o projeto da Salvação: "Entretanto, digo-vos a Verdade: convém a vós que Eu vá! Porque se Eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas se Eu for, enviá-Lo-ei. E quando Ele vier, convencerá o mundo a respeito do pecado, da justiça e do Juízo. Convencerá o mundo a respeito do pecado, que consiste em não crer em Mim. Convencê-lo-á a respeito da justiça, porque Me vou para junto do Meu Pai, e vós já não Me vereis. Convencê-lo-á a respeito do Juízo, que consiste em que o príncipe deste mundo já está julgado e condenado." Jo 16,7-11
   O Juízo, pois, é Sua própria Palavra: "Se alguém ouve Minhas palavras e não as guarda, Eu não o condenarei. Porque não vim para condenar o mundo, mas para salvá-lo. Quem Me despreza e não recebe Minhas palavras, tem quem o julgue. A Palavra, que anunciei, julgá-lo-á no Último Dia." Jo 12,47-48
    E Sua Palavra, como o Verbo Encarnado, é a Palavra de Deus: "Em Verdade, não falei por Mim mesmo, mas o Pai, que Me enviou, Ele mesmo prescreveu-Me o que devo dizer e o que devo ensinar." Jo 12,49
    Assim também, por óbvio, Sua Doutrina: "Respondeu-lhes Jesus: 'Minha Doutrina não é Minha, mas d'Aquele que Me enviou. Se alguém quiser cumprir a vontade de Deus, distinguirá se Minha Doutrina é de Deus ou se falo de Mim mesmo.'" Jo 7,16-17
    Em Sua Palavra, portanto, que corresponde ao Julgamento, está Sua Glória, como Ele mesmo explicou: "Assim também o Pai não julga ninguém, mas entregou todo Julgamento ao Filho. Desse modo, todos honrarão o Filho, bem como honram o Pai. Aquele que não honra o Filho, não honra o Pai, que O enviou. Não julgueis que hei de acusar-vos diante do Pai. Há quem vos acusa: Moisés, no qual colocais vossa esperança." Jo 5,22-23.45
    Contudo, nas próprias Escrituras estava previsto a rejeição que Ele sofreria, como vai dizer aos judeus pouco antes de Sua Paixão: "Mas Jesus, fixando neles o olhar, disse-lhes: 'Que quer dizer então o que está escrito: A pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se a pedra angular (Sl 117,22)? Mas todo aquele que cair sobre esta pedra ficará despedaçado. E sobre quem ela cair, será esmagado!'" Lc 20,17-18
    São Paulo, referindo-se aos não-judeus, evocou outra profecia: "E Isaías abalança-se a dizer: 'Fui achado pelos que não Me buscavam. Manifestei-Me aos que não perguntavam por Mim (Is 65,1).'" Rm 10,20
    No dia da Apresentação do Menino Jesus no Templo, um religioso também profetizou: "Simeão abençoou-Os e disse a Maria, Sua mãe: 'Eis que Este Menino está destinado a ser causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser sinal que provocará contradições, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações.'" Lc 2,34-35
    E Jesus mesmo alertou os Apóstolos: "Se o mundo vos odeia, sabei que Me odiou antes que a vós." Jo 15,18
    Falou de realmente difíceis situações, e sempre pela mesma razão: "Expulsá-vos-ão das sinagogas, e virá a hora em que todo aquele que vos tirar a vida julgará prestar culto a Deus. Procederão deste modo porque não conheceram o Pai, nem a Mim." Jo 16,2-3
    Falou de divisões dentro das próprias famílias, da Paz dada apenas à Igreja, e, como Deus, não deixava de exigir amor sobre todas coisas: "Não julgueis que vim trazer a Paz à terra. Vim trazer não a Paz, mas a espada. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do homem serão as pessoas de sua própria casa. Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a Mim, não é digno de Mim. Quem ama seu filho mais que a Mim, não é digno de Mim. Quem não toma sua cruz e não Me segue, não é digno de Mim." Mt 10,34-38
    E assim explicou Sua Paixão aos Apóstolos, logo na primeira aparição a eles, no Domingo da Ressurreição: "Depois disse-lhes: 'Isto é o que vos dizia quando ainda estava convosco: era necessário que se cumprisse tudo que de Mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então lhes abriu o espírito para que compreendessem as Escrituras, dizendo: 'Assim é que está escrito e assim era necessário que Cristo padecesse, mas que ressurgisse dos mortos ao terceiro dia. E que em Seu Nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas nações, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas de tudo isso. Eu mandar-vos-ei o Prometido de Meu Pai." Lc 24,44-49a
    São Pedro resumiu nestes termos a Revelação do Cristo: "Esta Salvação tem sido o objeto das investigações e das meditações dos Profetas, que proferiram oráculos sobre a Graça que vos era destinada. Eles investigaram a época e as circunstâncias indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava e profetizava os sofrimentos do mesmo Cristo e as Glórias que deviam segui-los. Foi-lhes revelado que propunham não para si mesmos, senão para vós, estas revelações que agora vos têm sido anunciadas por aqueles que vos pregaram o Evangelho da parte do Espírito Santo, enviado do Céu. Revelações estas que os próprios anjos desejam contemplar." 1 Pd 1,10-12
    E as manifestações do Cristo continuaram seletivas mesmo após Sua Ressurreição, como São Pedro afirmou: "Mas Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e permitiu que aparecesse, não a todo povo, mas às testemunhas que Deus havia predestinado, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois que ressuscitou." At 10,40-41
.   São Paulo pregou o mesmo em Antioquia da Pisídia: "Durante muitos dias apareceu àqueles que com Ele subiram da Galileia a Jerusalém, os quais até agora são testemunhas d'Ele junto ao povo." At 13,31
    E manifestou-Se por um relativamente longo período, como São Lucas registrou: "E a eles manifestou-Se vivo depois de Sua Paixão, com muitas provas, aparecendo-Lhes durante quarenta dias e falando das coisas do Reino de Deus." At 1,3
    Suas revelações, enfim, concluíram-se com o Livro do Apocalipse, como São João Evangelista registra: "Revelação de Jesus Cristo, que por Deus Lhe foi confiada para manifestar a Seus servos o que deve acontecer em breve. Ele, por Sua vez, por intermédio de Seu anjo, comunicou a Seu servo João..." Ap 1,1
    Ele dá este testemunho sobre a passagem de Jesus entre nós: "Sabemos que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento para conhecermos o Verdadeiro. E estamos no Verdadeiro, nós que estamos em Seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a Vida Eterna." 1 Jo 5,20
    E assim se encerra o conjunto da Revelação, como São Judas Tadeu atesta, falando da: "... fé, de uma vez para sempre confiada aos Santos." Jd 3b
    Mas as revelações pessoais, dadas pelo dom da ciência e que tem circunstancial valia, nunca cessaram. São Paulo menciona: "Suponhamos, irmãos, que eu fosse ter convosco falando em línguas, de que vos aproveitaria se minha palavra não vos desse revelação, nem ciência, nem profecia ou doutrina?" 1 Cor 14,6
    Ele mesmo teve várias, muitas das quais, pela importância, foram incorporadas ao conjunto da Revelação: "Importa que me glorie? Na verdade, não convém! Passarei, entretanto, às visões e revelações do Senhor." 2 Cor 12,1
    Uma delas é a concepção do Corpo Místico de Cristo, que inclui os não-judeus: "Consequentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos Apóstolos e Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus. É n'Ele que também vós entrais, pelo Espírito, na estrutura do edifício que se torna a habitação de Deus. Foi por revelação que me foi manifestado o mistério que acabo de esboçar." Ef 2,19-21.23:3,3
    Mas nenhuma delas vinham sem uma contrapartida de responsabilidade: "Ademais, para que a grandeza das revelações não me levasse ao orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para esbofetear-me e livrar-me do perigo da vaidade." 2 Cor 12,7
    Ele mesmo regulou tais manifestações durante o culto, rudimento da Santa Missa que então admitia a pregação de até três 'profetas', que são nossos atuais Sacerdotes: "Em suma, que dizer, irmãos? Quando vos reunis, quem dentre vós tem um cântico, um ensinamento, uma revelação, um discurso em línguas, uma interpretação a fazer, que isto se faça de modo a edificar. Quanto aos profetas, falem dois ou três, e os outros julguem. Se for feita uma revelação a algum dos assistentes, cale-se o primeiro." 1 Cor 14,26.29-30
    Advertia, entretanto, para as falsas revelações, que afrontam a Revelação: "... não vos deixeis facilmente perturbar o espírito e alarmar-vos, nem por alguma pretensa revelação nem por palavra ou carta tidas como procedentes de nós..." 2 Ts 2,2a
    Ele mesmo procurava confirmar as suas, procurando São Pedro, São Tiago Menor e São João Evangelista: "Catorze anos mais tarde, outra vez subi a Jerusalém com Barnabé, comigo também levando Tito. E subi em consequência de uma revelação. Expus-lhes o Evangelho que prego entre os pagãos, e isso particularmente aos que eram de maior consideração, a fim de não correr ou de não ter corrido em vão." Gl 2,1-2

    "Concedei-nos o convívio dos eleitos!"