segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

São Paulo Eremita


    Tinha pais cristãos, de ricas famílias de Tebaida, região no alto Egito, e recebeu excelente formação escolar e religiosa, mas ficou órfão de pai e mãe ainda aos 14 anos.
    Com as perseguições do imperador Décio, que aconteceram entre 249 e 251, acabou sendo denunciado como cristão por pessoas da administração pública de Tebas, cidade onde nasceu e morava. A real intenção dessa denúncia, porém, eram tomar suas posses. Estava, então, por volta de seus 28 anos, e como não queria participar dos rituais pagãos nem sequer imaginava negar sua em Cristo, como obrigava o imperador, finalmente falou mais alto em seu coração a vontade de abandonar a mundana vida das cidades e refugiou-se no deserto para nunca mais voltar.


    Escolheu morar numa região de cavernas, onde havia dois séculos os escravos de Cleópatra, rainha do Egito, extraiam minério e fundiam moedas. Aí havia uma fonte e palmeiras, que lhe davam alimento e folhas para tecer suas vestes e fazer sua cama. Quando as palmeiras não davam fruto, um corvo (seu Ajo da Guarda?) trazia-lhe pão. Algo semelhante deu-se com o Profeta Elias, quando Deus o mandou anunciar ao rei que por três anos não haveria chuva, nem sequer orvalho, e ele foi tratado como um falso profeta: "Em seguida, a Palavra do Senhor foi-lhe dirigida nestes termos: 'Vai-te daqui. Retira-te para as bandas do Oriente e esconde-te na torrente de Carit, que está defronte do Jordão. Beberás da torrente, e ordenei aos corvos que te alimentem.'" 1 Rs 17,2-4


    Era a perfeita vida: estava em plena Comunhão com Deus, sem nenhuma interferência humana, a não ser memórias e resquícios de costumes, que por vezes faziam vagar sua mente. Mas, por sua sincera determinação, isso não o impedia de entrar em contemplação, fazer suas orações, praticar penitências e pedir a Deus misericórdia e a conversão dos pecadores.
    Sua vida foi contada no livro 'Vita Sancti Pauli Primi Eremitae', escrito por São Jerônimo, que a ouviu de Santo Atanásio, discípulo de Santo Antão.
    Este último Santo, que viveu entre 251 e 356, já estava morando no deserto havia anos, pois também para ele era a única maneira de realizar a vontade de Deus, quando num sonho foi avisado que ali por perto vivia um homem ainda mais velho que ele. Santo Antão, que até então só se tinha afastado cada vez mais do contato humano, exceto em casos de extrema necessidade, sentiu que deveria conhecê-lo.
    E quando foi ao encontro de São Paulo Eremita, este já estava em seus últimos dias. Encontrou-o numa caverna e não conversava com um ser humano havia mais de oito décadas. E ainda trocavam impressões sobre assuntos espirituais quando o corvo de sempre chegou trazendo a ração em dobro, para honrar a visita.


    São Paulo então pediu a Santo Antão para ser enterrado numa vala que vira ser cavada por dois leões nas proximidades, poucos dias antes. Também pediu que em seu funeral fosse vestido de uma túnica que ele tinha recebido de Santo Atanásio. Santo Antão ficou muito admirado, pois não lhe havia falado da túnica nem quem lha dera. Percebendo sua surpresa, São Paulo humildemente tentou disfarçar seus dons espirituais, e justificou-se dizendo que não queria ir à presença de Deus em indignos trajes.
    Antecipando-se, Santo Antão logo foi buscar-lhe a túnica, mas quando voltou não mais o encontrou. Entendeu muito bem, porém, seu desejo de permanecer na solidão, como o próprio Santo Antão sentia-se quando seus seguidores o encontravam.
    São Paulo Eremita viveu 112 anos, informação dada por Santo Antão, que teve uma visão de sua alma envolta em Glória no momento em que subia aos Céus. No dia seguinte, foi à caverna onde o havia encontrado, vestiu seu corpo com a desejada túnica e enterrou-o na indicada cova.
    A solidão, que escolheu como esposa, foi sua companheira até a hora da morte. Buscou-a para encontrar-se com Deus e Ele revelou-lhe o mundo místico, muito mais rico em sinais do que realmente precisamos para bem viver.
    São Paulo Eremita demostrou que só Deus é essencial em nossas vidas.
    No século V, foi construído um mosteiro que conserva entre suas muralhas a caverna, em frente ao Monte Sinai, onde viveu nosso Santo que nada pregou e nada escreveu. Aí seu silêncio ainda pode ser ouvido e cultuado enquanto sua mais profunda oração. Algumas celas ainda são simplesmente escavadas na rocha, como modelo do abrigo por ele adotado.
    Suas relíquias foram exumadas e por muito tempo estiveram expostas na mesma caverna em que viveu. Até que, por perfeita inspiração, em respeito à sua vocação pelo total eremitério, foram definitivamente ocultadas, assim como a caverna, dos visitantes e mesmo dos monges.


    São Paulo Eremita, rogai por nós!